Ele senta do meu lado e eu penso que deveria ter feito as
unhas, porque, assim, de cabeça baixa, restam poucos lugares para ele repousar
os olhos – minha mão e meu aparelho tecnológico cheio de músicas. Toda vez que
o ônibus mexe demais, ele não se importa que meus ombros, tão pesados naquele
dia, encoste nos dele. O cheiro do meu xampu de frutas vermelhas chega aos seus
sentidos por meio dos ventos daquele dia de inverno com sol. Quase pude ver um
sorriso toda vez que inclinava um pouco o rosto e o dele virava, me deixando
como campo de visão uma barba mal feita, que dava vontade de arrumar. Meu quadril,
numa tentativa de se ajeitar no banco pequeno, bate numa mão inquieta. Ele levanta.
Eu ainda permaneço sem conseguir olhá-lo. Mas ele olha. Para trás. Levanto o
olhar, mas não a cabeça. Ele sorri. Desce. Procura meu olhar mesmo de longe. Eu
não olho. Para olhar precisaria olhar para trás. Eu quase nunca olho para
trás.
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