domingo, 27 de abril de 2014

Tão normal

Então te vejo e tenho vontade de dizer: ei, sabia que Don Juan - em alguma obra literária de algum autor - se matou quando descobriu que nunca conseguiria amar alguém de verdade? Você provavelmente riria e tentaria se aproximar dos meus lábios. Eu viraria pra dizer: é sério, ele se matou porque só conseguia mulheres através da sedução. Aí você se afastaria, porque falar demais te distrai. Eu ainda continuaria: sabia que existe um complexo que se chama donjuanisno? Consiste na ideia de homens, mulheres e gays que são apenas conquistadores hedonistas, ou seja, quando conquistam a pessoa desejada, toda a graça e prazer se esvaem. Será que você entenderia que, talvez, tudo isso fosse apenas para explicar a minha recusa e resistência?

Aí eu ia falar sobre o amor pela mãe, ou melhor, o complexo edipiano que essas pessoas têm. Afinal, elas não conseguem constituir família e acabam vivendo para sempre no lar materno. Isso pra verificar se você reagiria ou se identificaria. Se sim, iria falar sobre os sentimentos possivelmente homossexuais que os detentores desse complexo possuem. Essa parte seria só pra te irritar. Você se irritaria. Mas ainda chegaria perto, pra dizer no meu ouvido todas as coisas que você sempre diz, naquela velha tentativa de conseguir o que, aparentemente, deseja tanto. Mas, que pena, agora eu já te diagnostiquei: você tem complexo de Don Juan. Eu te diagnostiquei, veja só, logo eu, que sou tão normal e não tenho complexo nenhum.

Vida percorrida

Anita tentou puxar na memória alguma memória para então perceber que não lida bem com o passado ao mesmo tempo que não acredita no presente e desconsidera o futuro. Anita jura ao cosmo que tenta simplificar seus pensamentos e a culpa é das palavras que não dão conta de cumprir com os seus significados, deixando de evitar tantas flexibilidades. Presente é efêmero, dura nem um segundo e talvez dure um milésimo que já passou. Estamos no futuro? Nesse instante seguinte àquele milésimo que acabou de ser presente e agora é passado? Anita considera que isso não a levará a algum lugar, deixa de lado essa digressão e retoma a memória.

Memória. Anita poderia lembrar de cenas confusas da sua infância, tal qual os vídeos em que era gravada e ela não entendia quem ela era – a aniversariante pequena ou a menina maior? – isso ela só foi entender anos mais tarde e a explicação era simples: a menina maior era sua prima mais velha que vestia as roupas que passavam a ser de Anita quando deixavam de servir à prima mais velha.

Anita poderia lembrar das noites em que não dormia, nem acordava, mas ficava numa inconsciência entre esses dois estados e tinha experiências que nem o céu, nem a terra, conseguiu lhe explicar. Se escolhesse lembrar disso, Anita poderia falar o quanto isso a assustava e como seu corpo ficava petrificado sem seu sistema nervoso entender que aquilo se tratava do seu eu espiritual se manifestando. Mas isso é complicado de lidar.

Anita poderia falar sobre seu coelho que fugiu – e nunca mais apareceu – na páscoa e o quanto isso é irônico e significativo. Poderia falar do seu hamster que morreu torrado no sol e seu peixe que morreu congelado no aquário, e o quanto isso é dual e contraditório.

Anita poderia falar de como se sentiu abandonada em uma viagem que sua mãe fez e a deixou em casa e explicavam a ela que sua mãe logo voltaria, só estava fazendo um curso em Faxinal do Céu e ela, criança, ficava mais tranquila pensando na atividade altruísta que sua mãe estava se propondo a fazer: se é difícil varrer a casa, imagina o varrer o céu.


Anita não quer lembrar de nada disso. Anita não pensa linear, não escreve linear, não fala linear. Mas, Anita, memória não é passado. Abre aí mais um arquivo na sua mente e intitula: lem-bran-ças, e desenha florzinhas coloridas em volta para não esquecer: a vida é feita de memórias. De passado, não. De memórias! Que são as lembranças, que são sua jornada que nada mais é que a estrada - a extensão da sua vida que você já percorreu.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Sobre esporadicidades-aleatórias-casuais

Então eu poderia começar a falar entre as meias lágrimas que escorrem e essa voz que embarga deixando poucos rastros de firmeza. Poderia falar que te excluo das redes sociais porque é o que eu gostaria de fazer na minha vida. Mas poderia completar falando o quanto isso é inútil, porque não adianta, todos sabem, não adianta. Poderia falar agora que as lágrimas caem por inteira, sem mais se segurarem, que eu sou assim, eu me envolvo, entende? Eu me envolvo mesmo não querendo, mesmo sendo assim, tão fujona, cética, fria, como você diz vez ou outra só pra tentar me convencer de que o problema sou eu. E o problema sou eu, sim, sou eu e você, que somos cada um de jeito, daquele jeito que não se completa de jeito nenhum. Eu poderia falar que você me chateia mais do que me faz feliz, mas isso te chatearia e mesmo estando chateada, não é o que eu quero fazer com você. Eu não quero muita coisa, na verdade. Essa melancolia que se instaura em mim é por mim, que não sei lidar com essas coisas de relacionamento, não sei fazer essas coisas, assim, casuais, e eu me envolvo, entende? Me envolvo. Mesmo sendo inteligente o bastante pra saber que não devo, que você não “merece” e todas essas frases que as meninas iludidas gostam de falar. Da mesma linha de frases feitas que você tanto usa pra me convencer de tanta coisa, mas eu sei, entende? Que mesmo que você se dedique o suficiente pra me convencer de que o problema sou eu, fujona, cética, fria, eu sei que você não precisa me convencer, porque, claro, o problema é todo meu. É meu. Sou eu! Que não sei lidar e me envolvo. Eu me envolvo, veja só que coisa mais maluca, eu me envolvo... Mas eu não quero nada, mesmo, nem falar as frases de efeito que eu imaginei nos momentos em que você surgiu na minha cabeça nesses últimos dias. Falaria talvez que temos concepções divergentes sobre ir, de certa forma, mais além na nossa relação que não existe e poderia questionar várias coisas, desde “por que você tem essa necessidade – ou má intenção – de falar pra tanta gente que é apaixonado por mim?”, até “você oferece sua escova de dente para todas as meninas que perdem a hora por aqui?”, ou poderia dizer que, olha, veja bem, eu tentei e agora é necessário esclarecer que... Mas não. Isso entedia até a mim. Então só queria pedir, encarecidamente, pra você parar de me procurar. De verdade, não tenta mais nada comigo.  Essas coisas esporádicas-aleatórias-casuais. Porque mesmo hesitando muito em dizer, eu preciso falar que, no fim das contas, você me chateia. Muito mais do que me faz bem.