Aprendi a escrever, então comecei a escrever. Foi minha
primeira arma contra a melancolia. Dessa época veio a palavra crise. Eu entendia
que meus momentos de pensamentos melancólicos eram crises. Eu tinha várias, o
tempo todo. Crise porque era tímida, crise porque
era ansiosa, crise porque eu não entendia. Eu naturalizei a crise. Era como se
eu estivesse de acordo. Ela viria. Eu sentiria. Eu me desmancharia. Ela iria
embora. Eu me recomporia e esperaria pela próxima. Um dia, bem nova, escrevi que as
crises pisavam em latas de tinta antes de chegarem, porque elas pisavam em mim,
e isso por si só já era doído, mas ainda deixava rastros. As pisadas marcadas
pela tinta ficavam até mesmo quando não estava sendo pisada mais. Eu sentia o
peso das pisadas mesmo quando não havia mais peso em cima delas. A sensação de
sentir a sensação da pisada era tão – ou mais – assustadora que a própria pisada.
E assim eu entendi, por um tempo, o que era ter tendências melancólicas.