Anita tentou puxar na memória alguma
memória para então perceber que não lida bem com o passado ao mesmo tempo que
não acredita no presente e desconsidera o futuro. Anita jura ao cosmo que tenta
simplificar seus pensamentos e a culpa é das palavras que não dão conta de
cumprir com os seus significados, deixando de evitar tantas flexibilidades.
Presente é efêmero, dura nem um segundo e talvez dure um milésimo que já
passou. Estamos no futuro? Nesse instante seguinte àquele milésimo que acabou
de ser presente e agora é passado? Anita considera que isso não a levará a
algum lugar, deixa de lado essa digressão e retoma a memória.
Memória. Anita poderia lembrar de cenas confusas da sua
infância, tal qual os vídeos em que era gravada e ela não entendia quem ela era
– a aniversariante pequena ou a menina maior? – isso ela só foi entender anos
mais tarde e a explicação era simples: a menina maior era sua prima mais velha
que vestia as roupas que passavam a ser de Anita quando deixavam de servir à
prima mais velha.
Anita poderia lembrar das noites em que não dormia, nem
acordava, mas ficava numa inconsciência entre esses dois estados e tinha
experiências que nem o céu, nem a terra, conseguiu lhe explicar. Se escolhesse
lembrar disso, Anita poderia falar o quanto isso a assustava e como seu corpo
ficava petrificado sem seu sistema nervoso entender que aquilo se tratava do
seu eu espiritual se manifestando. Mas isso é complicado de lidar.
Anita poderia falar sobre seu coelho que fugiu – e nunca mais
apareceu – na páscoa e o quanto isso é irônico e significativo. Poderia falar
do seu hamster que morreu torrado no sol e seu peixe que morreu congelado no
aquário, e o quanto isso é dual e contraditório.
Anita poderia falar de como se sentiu abandonada em uma
viagem que sua mãe fez e a deixou em casa e explicavam a ela que sua mãe logo
voltaria, só estava fazendo um curso em Faxinal do Céu e ela, criança, ficava
mais tranquila pensando na atividade altruísta que sua mãe estava se propondo a
fazer: se é difícil varrer a casa, imagina o varrer o céu.
Anita não quer lembrar de nada disso. Anita não pensa linear,
não escreve linear, não fala linear. Mas, Anita, memória não é passado. Abre aí
mais um arquivo na sua mente e intitula: lem-bran-ças, e desenha florzinhas
coloridas em volta para não esquecer: a vida é feita de memórias. De passado,
não. De memórias! Que são as lembranças, que são sua jornada que nada mais é
que a estrada - a extensão da sua vida que você já percorreu.
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