Aconteceu, não foi mais possível negar. Se negar, por vezes,
é o que resta, sentir tanto complica toda a situação. Os beijos, os abraços, os
apertos – esses poderiam ser negados, ignorados, numa tentativa de, talvez,
esquecê-los. Mas as sensações, sempre as sensações. Não se trata do melhor
beijo, nem do abraço mais aconchegante, nem dos olhos mais brilhantes. É o que
se sente. É daquelas coisas que Shakespeare deve ter querido dizer, porque “há
mais coisas entre o céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia”. Então te
transformo em fantasma, porque você me assombra, me faz querer fugir, me faz
querer tomar decisões do tipo: olha, isso já foi longe demais. “Não se
martirize”. Não é martírio moral. Ou é. Só que pouco. É martírio de
incompletude. Porque você não deveria chegar e me fazer repensar nos caras tão
legais e atenciosos que querem me fazer feliz. Esses caras que me compreendem,
mas nunca vão me entender. Consegue ver? A diferença entre entender e compreender.
Veja só, deixo meu copo de cerveja esquentar para pensar nessas frágeis diferenças
e nesses clichês que fazem parte do meu ser. Compreender, entender. “Vou
dormir, preciso pensar em tudo o que aconteceu aqui”. Não tem o que pensar. A
vida é repleta de polaridades, só que nem todas somam. Consegue entender o que
é polaridade? Aquilo que atrai, que faz querer estar perto. Mas somar, não
soma. Às vezes subtrai, em outras divide... “Estou te poupando de muitas
lágrimas e sofrimentos”. Para um conto, poderia reconstituir a noite e pensar
num desfecho. Para uma crônica, poderia pensar sobre as situações inevitáveis
da vida. Para um romance, me esforçaria para estender diversas situações que,
provavelmente, não teriam um final feliz. O poema eu deixo pra você. Fica assim:
eu com minhas linhas tortas e vulgares, você com seus versos livres e encantadores.
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